EUA & Brasil
Por Alberto Gallo
Especialista em Infraestrutura.
PPED UFRJ
Publicado em: 24 de janeiro de 2025 às 17:43
Na manhã fria desse último sábado, 20 de janeiro de 2025 em Washington, Donald Trump subiu ao pódio para proferir seu discurso de posse como o 47º presidente dos Estados Unidos.
O cenário era familiar, mas o tom surpreendentemente diferente do que muitos esperavam. Trump, conhecido por sua retórica radical, surpreendeu à nação ao propor uma unificação, uma pacificação do país norte americano.
Em sua fala, Trump apresenta seu cartão de visita deste segundo mandato, e já inicia o período com uma das ações que vão trazer reflexos ao Brasil, e quem sabe, acelerar nosso processo institucional de pacificação.
Como no período colonial, nossa elite tupiniquim está sempre atenta ao que acontece nas metrópoles, para a partir de fora, ajustar nossas instituições de governo.
Apesar de nossos 202 anos de independência como nação, ainda nos mantemos atento às tendências externas e que por vezes são copiadas em nossa república verde amarela.
E vemos de longe uma “onda laranja” que se aproxima, trazendo novidades indesejadas para alguns intelectuais que se apresentam como os “ungidos” donos da verdade, do bem e do resguardo da democracia. Para outros mais conservadores, a “onda laranja” traz apenas um equilíbrio para práticas da sociedade com narrativas exageradas.
Se olharmos para o Brasil, após a última eleição, o grupo ideológico que assumiu a presidência do país adotou exatamente uma posição oposta.
Ao invés de unir o pais, com discurso de paz e avanços para uma agenda comum, o que percebemos foi uma posição de extremismo, tom vingativo, punitivo e agressivo para com os membros políticos da oposição.
Nas mídias sociais uma posição de “nós” contra “eles” inclusive financiando um jornalismo de consórcio.
No Brasil, se consolidou uma aliança do poder executivo com sistema jurídico, que autoconcedeu poderes quase absolutos, para investigar, criminalizar, punir, julgar e legislar. Deformações democráticas que relativizam e fragilizam instituições.
Já a “onda laranja” afirma que a Justiça não será usada para perseguir opositores, garantindo a liberdade de expressão.
Essa declaração foi vista como uma crítica velada às investigações que Trump enfrentou durante e após o seu primeiro mandato, e também propondo indulto ao povo que foi severamente perseguido pelos chamados “atos antidemocráticos” no Capitólio.
É preciso avançar na desconstrução de discursos de ódio, do identitarismo, segregação racial e da cultura do “wokismo“; propondo que todos sejam tratados com igualdade perante às políticas públicas e pela lei.
O novo presidente americano enfatizou a importância de produzir prosperidade a partir de direitos humanos e liberdades, permitindo que as pessoas construam as melhores soluções e costumes, inclusive com liberdade de escolha sexual, sem o ranço de justiçamento social.
Um dos pontos mais controversos desse discurso, foi a afirmação de Trump sobre a existência de apenas dois gêneros: masculino e feminino, baseando-se na visão científica. Sim, pois o gênero é uma construção social e o sexo é uma categoria biológica.
Fica claro que deve ser mantido o respeito para que as pessoas possam viver sua afetividade e sexualidade com liberdade e proteção na esfera privada de suas vidas e sem qualquer perseguição.
Mas que isso não deve ser motivo para ativismos que agridam a sociedade, como nos casos de covardia das competições esportivas, referindo-se a recentes controvérsias sobre atletas transgêneros e da desigualdade da competição que prejudica mulheres.
Trump apresentou uma visão de pacificação para uma sociedade dividida, prometendo “devolver os EUA aos americanos”.
Ele propôs buscar uma agenda comum, defendendo a liberdade, eficiência, lealdade e fé, além de promover a meritocracia. O presidente enfatizou que não há tempo para revanchismo, uma mensagem que ressoou com muitos americanos cansados da polarização política.
O mundo observa atentamente, esperando para ver se este novo tom de Trump representa uma verdadeira mudança ou apenas uma estratégia política calculada?
Há pontos controversos como maior rigor para com migrantes ilegais, expansão territorial, linha dura contra o terrorismo, inclusive denominando os cartéis de drogas internacionais como instituições análogas ao terrorismo.
Outros pontos de atenção: quando o presidente americano abandona o Acordo de Paris, se lança na produção de mais combustíveis fósseis em uma clara sinalização oposta ao consenso de transição energética.
O tempo dirá se a “onda laranja” vai se consolidar, vai corrigir rotas e se trará bons ares ao Brasil, com reflexos para que também abandonemos os discursos de radicalização política.
Num primeiro momento, o próprio presidente Trump declarou intenção em construir uma boa relação com o Brasil, independente de que tenhamos governo de esquerda ou direita.
Vale as boas relações históricas entre os dois países. Mas no final, disse que o Brasil precisa mais dos EUA do que eles de nós.
Ou seja, que o Brasil aproveite a “onda laranja” para surfar com desenvolvimento da economia, de bons negócios, que tragam mais prosperidade a todo o povo.
Por fim, no encerramento do discurso, Trump citou Martin Luther King Jr., prometendo realizar o sonho de um mundo para homens livres e com direitos iguais.
Que assim seja. Mais pacificação e menos, o chamado “ódio do bem”.