Gestão em Seropédica será marcada pelo incentivo à entrada de empresas

Da Redação

No alto de seus 25 anos de emancipação, na época distrito de Itaguaí, Seropédica, ao longo dessa história recente e ainda tão jovem, vinha reproduzindo um sistema de castas familiares, a velha política do compadrio, a exemplo do que ainda ocorre hoje na maioria das cidades brasileiras.

O ciclo, no entanto, foi rompido em Seropédica, a partir dessas eleições de 2020. Esse pleito será o divisor de águas para a cidade, através de um fenômeno nas urnas que atende pelo nome e sobrenome de Lucas Dutra. Sua vitória, no entanto, não resultou de um acidente de percurso. Foi fruto de uma dedicação de um jovem vereador que em seu segundo mandato resolveu sair em campo, se dedicando a um levantamento, pesquisando cada ponto da história de seu município, mapeando todas as ruas, construindo um verdadeiro catálogo de informações. Esse estudo lhe deu maior compreensão sobre as nuances mais profundas das desigualdades do povo de sua terra, e o cacifou como o candidato mais competitivo dessas eleições.

Estamos falando do popular professor Lucas Dutra, prefeito eleito com votação expressiva em Seropédica no primeiro turno, para governar a cidade pelos próximos quatro anos. Em entrevista concedida a Sylvia Pereira para o 8k, ele nos fala sobre sua ambição em realizar uma gestão de resgate da cidadania dos habitantes da cidade e do orgulho de poder começar esse trabalho de formiguinha em seu município para quem sabe, soprar bons ventos, e inspirar à política fluminense, pela busca da recuperação de sua autoestima.

Em sua primeira visita institucional depois de eleito, escolheu se reunir com o chefe do Legislativo fluminense, deputado André Ceciliano. O teor dessa conversa, vamos conhecer agora:

Qual o objetivo desse encontro, entre o senhor e o presidente da Alerj, André Ceciliano?

– Eu venho de uma experiência onde a Câmara de Vereadores de Seropédica, tinha que ficar refém do Executivo, no caso, do atual prefeito Anabal, que governou a cidade por 12 anos! E uma das piores omissões em sua administração era a falta de atrativo à implantação para novas empresas na região, fechando as portas da cidade ao fomento do desenvolvimento. Pior que isso, era negar qualquer incentivo às empresas que já estavam instaladas na região.

Diante desse quadro de estagnação, resolvi adotar agora, a partir de nossa eleição, uma administração que dialogue com todos os Poderes do estado, além da iniciativa privada. E minha primeira incursão institucional em direção a esse objetivo, está sendo a visita à Alerj. E a conversa com o presidente André Ceciliano girou em torno de estabelecermos uma colaboração mútua de incentivo, apoio e harmonia, que garantam a abertura de Seropédica para ocupar um ranking no cenário estadual, voltada para uma atividade econômica com a perspectiva de uma nova era de progresso, modernidade e desenvolvimento.

Isso significa a busca de parcerias na iniciativa privada, atraindo as micro, pequenas, médias e grandes empresas, que visa não somente a geração de empregos para a população, mas também a circulação do dinheiro, fortalecendo assim a economia local. Como consequência dessa política de união, será gerada uma maior arrecadação de impostos, revertendo-se em melhorias de infraestrutura, segurança e condições de vida mais próspera para o município, refletindo-se também no fortalecimento do estado.

O senhor já declarou que pretende fazer uma administração enxuta. Quais são as áreas em seu governo que serão atingidas pelo corte de gastos?

– Todo o conjunto de cargos considerados dispensáveis à nossa administração estará na lista da exoneração. Começo cortando na própria carne, extinguindo oito assessorias especiais atreladas ao Gabinete do prefeito, que são desnecessárias. No geral, as pessoas pensam que enxugar custos em uma administração pública passa somente pelo corte de secretarias, e isso não é verdade! Na realidade, o que incha a folha de pagamento nas administrações públicas são os inúmeros cargos, os chamados “cabides de emprego” que orbitam em torno dessas secretarias, sem nenhum ganho real para a gestão.

Ampliarei o número de secretarias, mas em contrapartida, diminuirei os cargos de assessorias. E a razão é simples. Atualmente existe a junção de três secretarias, Educação, Cultura e Esporte, todas atreladas à mesma pasta. Trata-se de um equívoco, pois cada uma delas é voltada para políticas públicas diferentes. Unidas em uma pasta, dificulta a atração de recursos.

Os cargos, considerados penduricalhos, criados para fazer política e abrigar até os funcionários fantasmas, que recebem e não trabalham, serão sumariamente extintos da folha de pagamento, para cederem lugar à eficiência na gestão.

Voltando às eleições, como foi para o senhor lidar com a imagem desgastada de seu partido, o PSC, na campanha junto ao eleitor?

– Eu parto do princípio que em todo o lugar existem pessoas boas e ruins, não seria diferente dentro dos partidos políticos. E no nosso município, felizmente, o eleitor costuma votar em pessoas, independentemente de qualquer sigla política. Outro fator relevante que destaco sobre a adesão do eleitor ao meu nome é que sou nascido e criado na região, onde todos conhecem minha família, minha vida e trajetória política, inclusive com boa aprovação como vereador de segundo mandato, e sempre numa oposição crítica às medidas do Executivo que não viessem a contemplar os interesses públicos. Acredito que a junção desses ingredientes, aliados às propostas sobre nosso plano de governo, que indicam mudanças sobre os rumos do destino da cidade, favoreceram para a virada.

E como o senhor pretende, depois de empossado, se relacionar com a Câmara de Vereadores?

– Buscando o equilíbrio, sempre aberto e disposto a ouvir críticas construtivas que venham a contribuir de maneira condizente com a boa governança, com harmonia e articulação constantes entre os dois poderes, objetivando sempre a melhoria e a qualidade de vida da nossa população. Aproveitando ao máximo os projetos e requerimentos enviados do legislativo para o Executivo, dando a oportunidade que eu não tive enquanto vereador, onde via todos os meus projetos serem engavetados pelo prefeito Anabal.

‘Seropédica será, em pouco tempo, um polo industrial, através do estímulo e de incentivo fiscal para as empresas, boa infraestrutura e mão de obra qualificada’ (foto: Paulo Carneiro)

E a pergunta recorrente que não quer calar: em seu governo, os cargos serão todos ocupados por técnicos, ou vai mesclar com cargos políticos?

– Serão ocupados totalmente por técnicos. O único cargo que terá cunho político será a Secretaria de Governo, que precisa ter à frente um perfil com boa articulação política institucional, com conhecimento e habilidade, auxiliando em metas a serem alcançadas pelo governo. Já o restante da equipe, não tem jeito, tem que ter excelência técnica na pasta que vier a ocupar.

Essa escolha, poderá no início ser mal compreendida, pois estamos viciados a um modelo atrasado de se gestar a coisa pública, embora a história já tenha comprovado sua ineficácia, denunciando sequelas de perdas profundas na sociedade como um todo. Mas acredito que lá na frente, com o saneamento administrativo que nossa gestão promoverá, todos irão perceber que a administração pública voltada para o desenvolvimento só poderá ter êxito, se vier acompanhada de uma postura ética e republicana.

Embora tenhamos sido eleitos com uma coligação de 13 partidos políticos, houve um acordo de que, diante de uma possível vitória eleitoral, a prática nefasta do toma lá dá cá estaria descartada. Não haveria negociação para ocupação de nenhuma das secretarias, consideradas como o coração da nossa administração, já que junto ao Gabinete do prefeito decidirão os destinos de Seropédica.

Há outras maneiras de se contemplar essa base de apoio, e ao mesmo tempo de esses aliados contribuírem. Todos são importantes para o processo de reconstrução de Seropédica. Terá uma composição com os grupos políticos de apoiadores, desde que essa composição não prejudique o bem comum, e os aliados terão que ter essa maturidade para entender a importância dessa decisão, para que seja viável a necessária reconstrução da cidade.

Quantos vereadores o seu partido, o PSC, fez nestas eleições?

– O PSC fez dois vereadores, mas a minha base aliada fez seis parlamentares. Mas mesmo os vereadores que eram ligados ao Anabal tenho bom relacionamento, e vamos trabalhar juntos, respeitando o código de ética, para avançarmos.

E o Plano Diretor da cidade?

– Pretendo formar uma comissão para me ajudar a melhor interpretar e talvez refazer o que foi feito lá atrás sobre o tema. Só que agora pretendemos montar um novo texto, excluindo alguns itens que podem ter se tornado obsoletos e adotando outras práticas que venham a se identificar e contribuir com a nova Seropédica que queremos construir. Mas, desta vez, será colocado em prática, tornando-se um guia para orientar nossas ações de governo.

Na sua opinião, qual o gargalo prioritário a combater em sua gestão, a partir de janeiro de 2021?

– Ênfase na saúde, sempre. Na minha opinião todas as outras áreas da administração pública têm que ser encaradas como pautas urgentes de governo e necessárias de políticas públicas. Mas a saúde é um tema essencial, pois passa pelo grande desafio de se lidar com a saúde pública, que é a essência do bem-estar coletivo.

E uma de suas referências de alicerce está ligada diretamente com o saneamento básico e as condições de vida, principalmente da população mais vulnerável. Por isso acredito, que a saúde tem que passar primeiro pelo controle da prevenção, que está ligada ao fornecimento de água potável, além de atacar o grande vilão de contaminação por doenças infecciosas, que são os esgotos a céu aberto, os bolsões de lixo acumulados próximos às moradias e outras tantas mazelas que precisam ser contidas com várias ações sanitárias e educativas para a população.

Simultaneamente, na outra ponta de atendimento, vamos nos deparar com o monitoramento da Atenção Básica de Saúde, onde é a porta de entrada para o SUS (Sistema Único de Saúde), do Governo Federal, que acredito ser o maior parceiro de soluções para a saúde no município.

E a educação, considerada também um ponto nevrálgico nas administrações públicas brasileiras. Como o senhor pretende encarar o tema?

– Só para que se entenda como funciona até aqui a educação no município, e falo aqui apenas da infraestrutura. Seropédica tem hoje 43 unidades escolares, entre as quais algumas do estado que se municipalizaram, e outras construídas pelo atual prefeito, que têm um formato peculiar, sem nenhuma estrutura que lembre uma escola. Porém, meu projeto para a educação no município é bastante audacioso, para os moldes atuais, e a área construída é totalmente inadequada para suportar o projeto que pretendo implementar. Requer não apenas a reforma dos imóveis para se adaptarem ao novo modelo, mas também a construção e ampliação de novos espaços para creches e a educação infantil.

A ideia é sistematizar, na grade curricular do município, a educação de período integral. Não sei se vamos conseguir em quatro anos realizar por completo, nas 43 unidades, esse plano de ação arrojado, mas vamos criar sim, um esforço para que haja pelo menos uma boa parte cumprida.

E para finalizar, qual será a marca que o senhor pretende imprimir em sua gestão em Seropédica, a partir de janeiro de 2021?

Pretendo marcar a minha gestão pela atração do capital privado, na forma de incentivar a entrada de empresas que queiram se instalar em massa no nosso município, com o propósito de entrarmos para um novo ciclo, que represente desenvolvimento e progresso, privilegiando uma nova mentalidade administrativa.

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