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Publicado em: 17 de setembro de 2024 às 00:08
Militarização
As propostas apresentadas no plano de governo de Ramagem trouxeram especial preocupação para os pesquisadores, principalmente as que introduzem elementos de militarização na Guarda Municipal, como a participação conjunta em exercícios e operações das demais forças policiais e a utilização da corporação para complementar as atividades da Polícia Militar.
Marcos Rolim teme que esse eixo de ação possa pôr em risco a própria vida dos agentes municipais. “Trata-se de uma irresponsabilidade que irá espelhar a Guarda nas polícias, expondo desnecessariamente a vida dos agentes e aumentando os indicadores de letalidade policial no Rio que já são altíssimos.
Essa providência, terá um enorme custo de oportunidade, porque irá retirar a Guarda das suas funções precípuas que são de natureza preventiva”, declarou.
José Claudio e Luiz Eduardo Soares vão além, enxergando nessa iniciativa uma porta de entrada dos agentes ao crime organizado.
“O controle territorial do crime, a milicialização e o próprio tráfico de drogas estão interligados com a estrutura estatal de ganhos. Não há estrutura armada no Brasil funcionando há tanto tempo sem conexões com a estrutura de segurança pública.
Quando ele fala em militarizar a guarda municipal, quando alguém defende isso, traz para essa estrutura tudo isso o que há de pior no que vivemos hoje”, apontou José Claudio.
O Luiz Eduardo esclarece que a forma de atuação de corporações militares é mais suscetível à corrupção. “Você troca os agentes de segurança que pensam, que refletem por si próprios, com posições de análise, elaboração e estruturação de ações por comandos hierarquizados que obedecem uma estrutura influenciada por suborno, por corrupção, por ganhos e negócios entre diferentes grupos estatais e não-estatais”.
Soares se referiu às propostas nesta direção como um “ovo de serpente”, com especial receio no que diz respeito ao contexto das milícias na capital. “Militarizar e armar a Guarda Municipal são os primeiros passos para a criação de enclaves paramilitares que, inicialmente, promoverão insegurança para vender segurança, e logo depois, autonomizados, se tornarão cada vez mais perigosos, não apenas se aliando, mas protagonizando o crime”, antecipou o sociólogo.
Possíveis soluções
Dentro do contexto municipal, os especialistas compartilham pontos de vistas semelhantes sobre a melhor abordagem para o próximo gestor municipal garantir a segurança pública.
Os três defendem a construção de políticas de escuta da população na gestão de segurança, em especial para dar voz às parcelas mais vulneráveis. “Essa população que sofre na pele todas as vitimizações é a que deve construir as políticas de segurança.
Elas são as mais bem informadas sobre aquilo que elas estão vivendo, sobre os processos que estão ali acontecendo: de ausência de alternativa, de expansão dos grupos armados, de conluios com a estrutura de segurança pública”, indicou José Claudio Alves.
Os pesquisadores também ressaltam a importância de investimento em políticas de proteção à primeira infância.
“Muitos dos fatores de risco criminogênicos começam a operar nessa fase crucial do desenvolvimento dos indivíduos. A prefeitura deve reduzir significativamente a evasão escolar, capacitando os professores da rede municipal para os desafios da educação socioemocional e deve constituir protocolos para a atuação dos conselhos tutelares que, atualmente, agem de forma improvisada e sem prestação de contas”, recomendou Marcos Rolim.
Luiz Eduardo Soares também defende uma postura do próximo prefeito que propicie o esforço concentrado de múltiplos atores políticos no combate à criminalidade no Rio de Janeiro, exigindo “em campanha aberta e permanente, que o governo estadual cumpra seu dever e passe a controlar as polícias e o tráfico de armas”, além de convocar a população “para uma ampla repactuação contra a violência armada e a brutalidade policial de viés racista”.