Por: JOSÉ MORAES
Ex-conselheiro do TCM, ex- vereador do Rio, e há 34 anos, é Comodoro do Iate Clube da Ilha do Governador
A calma e a tranquilidade são fundamentais, passado o primeiro impacto da tragédia que vitimou professoras e alguns alunos, de duas escolas brasileiras, para começar a se pensar em estabelecer medidas para proteger a comunidade escolar como um todo.
Infelizmente, esse é um assunto bastante desagradável, mas não podemos nos omitir, e deixar de falar dele.
Trata-se, obviamente, da segurança de nossas crianças e jovens nas escolas. O Brasil não é uma ilha isolada do resto do mundo.
Com a internet e a globalização, então, tudo que acontece aqui, que fuja ao usual, e à rotina, repercute no mundo todo. E o que ocorre em outros países, da mesma forma, chega a todos nós com a velocidade instantânea de um raio.
Entretanto, se essas notícias chegassem apenas a nós, pais, às autoridades, às direções das escolas e aos docentes, menos mal seria. A realidade, contudo, é bem diferente. Nossas crianças na fase da adolescência e já entrando no período da juventude, propriamente dito, hoje, são muito mais bem informados do que a nossa geração, a dos nossos pais e avós eram.
A internet, a par de sua maravilhosa valia, também introduziu, como acontece com todo o processo de modernização, pelo qual o mundo passa ciclicamente, diante de novos modelos, introduzidos na sociedade, e que propõem ao nosso dia-a-dia, alguns componentes, que também podem ser negativos. Com o aparecimento da internet, não foi diferente! Por mais zelosos e responsáveis que sejamos como pais, jamais conseguiremos neutralizar alguns efeitos daninhos da ferramenta que tem que aprender a usar com responsabilidade, sem se arriscar em seu submundo.
Mesmo que controlemos, dentro do possível, o acesso de nossos filhos às notícias negativas, seja colocando filtros e outros instrumentos no computador, seja através de um diálogo franco e esclarecedor com eles, de alguma forma eles podem tomar conhecimento, tanto por colegas das escolas, dos Condomínios, dos Clubes, etc.
Uma das mais horripilantes práticas disseminadas pela internet são os chamados desafios, alguns deles com DNA criminoso. A juventude é uma etapa na vida, em que se tem uma necessidade intrínseca de se sentir aceito, de mostrar que não tem medo, etc.
Assim, muitos são vitimados por armadilhas covardemente disfarçadas de passatempos. Há jogos eletrônicos também que são verdadeiros convites para que nossos jovens saiam, motorizados, atropelando pessoas nas vias e calçadas. Quanto mais vítimas conseguidas, mais pontos para os jogadores.
Incontestavelmente, associadas à prática de buylling contra alguns alunos, à insegurança psicológica própria da idade e a falta de mais vigilância e ação por parte de todos nós, adultos, (pais, professores, legisladores, juízes, promotores, conselheiros tutelares, etc.), essas práticas viralizam, tornando-se modismo, contagiando e ajudam a formar um caldo propicio à leniência.
No afã de colaborar, quase todo mundo tem uma solução agora, para esse problema. Na verdade, há diversas soluções, que devem ser analisadas com critério, conscienciosamente, sem, no entanto, recorrer ao enveredamento político.
Sem aquela ânsia desvairada por apontar culpados. Mas que algumas providências muito sérias têm que ser tomadas, disso, eu não tenho a menor dúvida.
Mas apelo a todos, do alto de minha experiência como pai de 10 filhos, de Comodoro há 32 anos, de um Clube Social, dos mais importantes de todo o país, convivendo diariamente com crianças e adolescentes; além de experiente legislador, por 12 anos contínuos, na Câmara Municipal do Rio de Janeiro.
Só aconselho, repito, que todos tenhamos muita calma e tranquilidade para enfrentarmos esse assunto tão delicado e triste. Nesse momento extremamente conturbado, e que mexe profundamente com o emocional de todos, precisamos refletir, ponderar, estudar a situação.
Para isso, temos que nos cercar de opiniões de pessoas abalizadas, como: psicólogos, psiquiatras, pediatras, policiais e profissionais especializados em segurança, antes de decretarmos que o certo é apenas “isso” e que “aquilo”, prática muitas vezes utilizada, mas com teor totalmente equivocado.
À imprensa e redes sociais, cabe um papel fundamental: não digo que devam censurar notícias, absolutamente! Não mesmo! Mas que divulguem esses tristes acontecimentos de forma moderada, sem exagero. Com críticas e sugestões, sim, mas sem levar pânico, medo, e ainda mais descontrole à juventude brasileira.
A sociedade deve debater, sim! Não seria positivo que houvesse a obrigatoriedade de um vigilante armado na entrada das escolas? Ao mesmo tempo, em conjunto à essa medida, não seria necessário, um levantamento prévio e discreto, um acompanhamento de jovens que já demonstraram algum descontrole emocional, sem que, de modo algum, isso pudesse vir a estigmatizar esses jovens? Logicamente, eu não quero ser o dono da verdade, mas ninguém, também o é.
Até porque o percentual desses tristes acontecimentos é muito, muito, muito baixo, felizmente, em relação ao número de alunos matriculados nas escolas de todo o país. Com isso, não quero, absolutamente, deixar de ser solidário com aquelas pessoas que sofreram a dor de um acontecimento trágico como esse, mas apenas alertar para que não se propague um pânico
Mãos à obra, portanto! Mas, sem açodamento, sem precipitação e com calma e tranquilidade, repito.