Tremembé
Da redação do 8k / Fotos: Divulgação
Publicado em: 17 de novembro de 2025 às 23:55
A série “Tremembé”, do Prime Vídeo, realmente divide opiniões e gera intenso debate, principalmente devido à sua abordagem de crimes brutais e notórios do Brasil, como os casos Suzane Von Richthofen, Elize Matsunaga, e os Nardoni
Mas responder se “somos uma sociedade doente” é uma questão de cunho filosófico e sociológico. Muitos argumentariam que a capacidade de nos entreter com a desgraça alheia é, sim, um sintoma de um certo adoecimento social ou de uma falha na nossa bússola moral.
Já outros diriam que é apenas a manifestação de traços humanos antigos através de novas tecnologias e formatos de mídia.
O debate em torno de séries como “Tremembé” é a prova de que a indignação ainda existe entre nós, e é um contraponto necessário ao consumo “prazeroso” desses conteúdos. A divisão de opiniões mostra que a sociedade ainda está tentando encontrar um equilíbrio entre a curiosidade, a ética e o respeito pelas vítimas.
As principais razões para a controvérsia incluem:
- Suposta Glamourização dos Criminosos: Uma das críticas mais comuns é a de que a série poderia estar “glamourizando” ou “romantizando” os detentos, transformando figuras condenadas por crimes hediondos em personagens de entretenimento ou até mesmo em celebridades.
- Foco nos Autores dos Crimes e Não nas Vítimas: Muitos espectadores e críticos expressam repúdio pelo fato de a narrativa se concentrar no cotidiano e nas relações pessoais dos criminosos dentro da prisão, em vez de focar nas vítimas e na gravidade de seus atos.
- Debate Ético sobre o “True Crime”: A produção reacendeu discussões éticas mais amplas sobre o gênero “true crime” e até que ponto é apropriado transformar tragédias reais em produtos de consumo midiático.
- Reações dos Roteiristas e Atores: Os envolvidos na produção têm respondido às críticas, com o roteirista Ullisses Campbell afirmando que, apesar dos crimes, os detentos “continuam sendo seres humanos” e a atriz Bianca Comparato defendendo que a “realidade é pior” do que o retratado na série.
- Curiosidade vs. Repulsa: Paralelamente ao repúdio, a série também gerou enorme
Curiosidade X Repulsa:
Paralelamente ao repúdio, a série também gerou enorme interesse do público, que maratonou os episódios para espiar a “prisão dos famosos” e entender a dinâmica daquele ambiente, o que evidencia a divisão de sentimentos entre os espectadores.
Em suma, a série alcançou grande sucesso de público, mas provocou um desconforto moral significativo em parte da audiência, que questiona os limites éticos de transformar crimes reais em entretenimento.
A questão levantada é profunda e complexa, tocando em pontos sensíveis sobre a natureza humana, a evolução da sociedade e a forma como consumimos mídia. Não há uma resposta única ou simples para “quando” isso aconteceu, mas podemos explorar os fatores que contribuem para essa mudança de perspectiva:
- A Saturação da Mídia e a Busca por Conteúdo: Vivemos em uma era de consumo midiático intenso, com uma oferta quase infinita de conteúdo. O “true crime” (crime real) oferece narrativas envolventes e frequentemente mais impactantes do que a ficção, capturando a atenção do público em meio a tanta concorrência.
- A “Fascinação pelo Mórbido”: Existe uma curiosidade psicológica inata no ser humano pelo que é sombrio, perigoso ou transgressor. A psicologia sugere que a visualização segura desses eventos extremos (através de documentários, séries, etc.) pode ser uma forma de processar medos ou entender melhor os limites da moralidade sem se expor ao perigo real.
- O Distanciamento da Realidade: Consumir histórias de crimes em formato de entretenimento pode criar um distanciamento da dor real das vítimas e de suas famílias. O formato de série ou filme, com roteiro e atuação, pode transformar a tragédia em uma narrativa ficcionalizada, diminuindo a sensação de indignação.
- Mudanças Culturais e a Sensibilidade Coletiva: A sociedade contemporânea pode ter desenvolvido uma certa “insensibilidade” ou tolerância maior a conteúdos violentos e perturbadores, devido à exposição constante a notícias de atrocidades e à violência no mundo real e na mídia
- A Complexidade dos Personagens (Criminosos)Muitas produções, como a série “Tremembé”, focam na psicologia e nas motivações dos criminosos, tentando humanizá-los ou explicá-los. Isso pode despertar empatia ou, pelo menos, curiosidade intelectual sobre “como alguém é capaz disso”, o que pode ser confundido com entretenimento.
